segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Matéria para a revista ÉPOCA

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Para ele, "transgressor" é uma palavra que não cabe em nossa época

ÉPOCA – No show que a nossa reportagem acompanhou, houve um protesto das fãs porque vocês não desceram para falar com elas. Isso incomoda vocês?
Pelu –
Nessas passagens que a gente faz a gente sempre costuma passar pela porta, mas ali em Sorocaba não tinha condição de segurança. Foi uma situação meio extrema, a gente teve de sair com a van direto. Mas eu não concordo muito com esses protestos... nem elas, na verdade. É uma braveza momentânea, um nervosismo momentâneo. Uma puxa, outra vai atrás, as depois fica tudo bem. Na saída para São Paulo a gente falou com quem estava lá ainda, conversou um pouco. Acho que a galera entende. E para quem não entende, não tem nada que a gente possa fazer. Elas precisam ter um pouquinho de compreensão, não é uma má vontade nossa.

ÉPOCA – Em 2010 vocês receberam muitos elogios, mas também muitas críticas. Vocês se deixam afetar pelas críticas, ou se convencem com os elogios?
Pelu –
Acho que é mais perigoso se convencer com os elogios do que ficar chateado com as críticas. A gente procura manter sempre o pé no chão e usa as críticas para deixar a gente com a cabeça no lugar, para a gente não ficar se achando. É óbvio que muita gente vai criticar. E a gente gosta dessa divisão. Teve uma chamada da revista Billboard que dizia que o Restart é a banda mais amada e mais odiada do Brasil. Eu gosto desse radicalismo, eu acho que isso dá emoção para as coisas. Ou a galera gosta da gente ou a galera não gosta, não tem aquele pessoal meio-termo. Isso faz os shows serem maravilhosos, faz a galera estar sempre perto, e ao mesmo tempo faz a gente querer crescer muito, porque quando as críticas vêm, elas vêm bem duras, com o tamanho do fanatismo. A gente pensa: vamos melhorar para que as pessoas que criticam também vejam coisas bacanas.

ÉPOCA – Na porta do hotel, algumas pessoas disseram que estavam esperando desde cedo só para xingar vocês. Isso costuma acontecer?
Pelu –
Ah, isso acontece. Eu fico me perguntando sobre isso. A gente queria tanto ter um tempinho livre, e parece que tem tanta gente com tempo sobrando e que usa esse tempo para não fazer nada (risos). O que eu vou falar para um cara desses? Com esse tipo de pessoa não tem discussão, não tem argumento. Deixa ele se divertir... Se ele está se divertindo assim, deixa ele ser feliz.

ÉPOCA – Você considera o Restart uma banda transgressora?
Pelu –
Acho que "transgressor" é uma palavra que não cabe mais nesta época em que a gente vive. Eu fui ver o show do Paul McCartney em São Paulo. Quando ele toca as músicas dos Beatles, ou mesmo dos Wings e de outros projetos dele que rolaram antigamente, você vê que aquilo na época era transgressor, mas hoje é uma coisa comum, isso se popularizou. Tinham 64 mil pessoas no show, de criancinhas a velhinhos, a maior mistura legal. A gente só vai descobrir o impacto que a gente teve nas pessoas daqui a muito tempo. Não estamos fazendo música com a intenção de sermos transgressores. A gente quer passar a nossa mensagem.

ÉPOCA
– E qual é a mensagem de vocês?
Pelu –
A principal mensagem é que você pode ser você mesmo. A gente trabalha com uma galera que está procurando alguma referência. A maior parte do nosso público tem entre 14 e 18 anos. É uma fase em que você está procurando algo para te guiar, para você se achar. E a gente fala para as pessoas que o mais legal é você ser você, e não você ser uma cópia de alguém. E dentro disso a gente tenta passar algumas coisas que fizeram parte da nossa criação e que para a gente são naturais, como ter um carinho pelo pai e pela mãe, pela família; ir para a balada com os amigos, mas não necessariamente se drogar, beber, extrapolar seus limites. A gente foi criado de uma forma natural com tudo isso, mas tem gente que fala ‘pô, como assim levar o meu pai e minha mãe no show?’, ‘como é que eu não vou beber na balada’. Vamos olhar o outro lado, né? Acho que é uma coisa light. A gente não tem a pretensão de fazer com que as pessoas mudem. A gente quer fazer o que a gente gosta e passar a nossa verdade para as pessoas. A gente é o que a gente é.

ÉPOCA – As roupas coloridas são uma forma de chocar?
Pelu –
Olha, não é uma coisa intencional, mas acabou chocando...

ÉPOCA – Nem um pouquinho intencional?
Pelu –
Não, não... é diferente. A gente coloca essas roupas porque a gente gosta. Nós não iríamos nos sentir bem por usar alguma coisa só para provocar uma reação nas pessoas, seja ela uma reação boa ou uma reação ruim. Nós somos assim. Se isso choca ou não, aí vai depender do mundo que está nos vendo. A gente sempre fala que não tem obrigação nenhuma com música, com tipos de roupas, muito pelo contrário. A gente se dá a liberdade e o prazer de fazer o que a gente gosta. A partir do momento em que a gente perder isso, acabou a banda. Se eu não me sentir bem com a roupa que eu estou ou com o som que eu estou fazendo, aí não tem mais sentido estar no palco.

ÉPOCA – Se um dia vocês se cansarem das roupas coloridas e tiverem vontade de tocar de camiseta polo bege, vocês vão mudar as roupas?
Pelu –
É, tem que ser isso (risos)! Essa atitude real assim acaba sendo uma baita atitude rock and roll. A essência do rock and roll sempre foi a liberdade, fazer o que você estiver a fim de fazer. Fazer pose não é rock and roll.

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